Publicado: 29/08/24 às 09h29
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A adesão aos videogames é motivo de discussões sobre seus efeitos em toda a comunidade. De acordo com a PGB (Pesquisa Game Brasil), três em cada quatro brasileiros afirmam que são fãs de jogos eletrônicos. A partir deste dado, constata-se que os games têm ganhado cada vez mais destaque como forma de entretenimento e diversão no Brasil. De um lado se encontra a parcela que defende e apoia sua comercialização, de outro, aqueles que compreendem uma perspectiva negativa acerca do assunto. Em tese, nenhum dos lados está completamente certo e nem completamente errado. Neste ensaio faremos uma análise tecnológica, além de abordar os benefícios e malefícios dos videogames e de que maneira eles interferem na sociedade.
No que diz respeito à contribuição dos games à sociedade, observa-se que os membros dessa comunidade aprimoram suas habilidades motoras e cognitivas, além de desenvolver a capacidade de resolver problemas complexos, tomar decisões em um curto período e coordenar movimentos precisos, bem como estimular a liderança, a atenção e melhorar a estratégia. Os jogos também criam comunidades de jogadores online e estabelecem conexões globais ao proporcionarem experiências de trabalho em equipe.
No âmbito educacional, os jogos podem ser ferramentas poderosas de ensino, os alunos podem desenvolver pensamento crítico e criatividade, de forma engajadora e interativa. Além de abordarem temas complexos de forma lúdica e estimulante, os jogos também possuem o poder de facilitar o aprendizado de outras línguas, principalmente o inglês, por meio de legendas e trilhas sonoras.
Em relação à saúde mental, os jogos proporcionam uma forma de escape e relaxamento, sendo utilizada como terapia e auxiliando no tratamento de distúrbios mentais. Jogar videogame pode reduzir o estresse, melhorar o humor e promover a socialização. De acordo com um estudo realizado pela Universidade de Oxford, na Inglaterra, pessoas que jogam por até quatro horas por dia notam que se sentem mais alegres.
No entanto, o tempo destinado à atividade tende a ser exagerado. A dopamina, neurotransmissor responsável pela sensação de prazer e euforia, é liberada em nosso cérebro, levando os usuários a se viciarem e quererem jogar cada vez mais. Como consequência, acarreta o sedentarismo e participa do desenvolvimento de problemas de saúde, como obesidade, distúrbio de sono, problemas de visão, de audição e má postura. Em 2022, a Organização Mundial da Saúde (OMS), reconheceu formalmente o vício em videogames e jogos eletrônicos como uma doença.
A obsessão com jogos leva os jogadores a se isolarem socialmente e perderem o interesse em atividades anteriormente prazerosas, deixando de fazer atividades importantes, como a alimentação, estudo, sono e trabalho, para jogar videogame.
Embora não haja estudos definitivos que comprovem que os jogos podem induzir alterações neurológicas e atos de violência, pesquisas realizadas pela Associação Americana de Psicologia concluíram que jogos de guerra, luta e tiro podem estimular a agressividade, por interferirem em questões emocionais. Além disso, o desejo constante de obter pontuações altas e falhar em atingir níveis mais altos pode causar irritabilidade e estresse.
As leis que regulam aspectos como classificação etária, conteúdos, publicidade e proteção ao consumidor, podem variar de acordo com cada país. No Brasil, o projeto de lei “marco legal para a indústria de jogos eletrônicos e para os jogos de fantasia” (PL 2.796/21 – Marco Legal de Games) que possui a finalidade de criar políticas para impulsionar o desenvolvimento desse setor no Brasil, por meio da regulamentação dessas atividades e da concessão de incentivos fiscais, aguarda aprovação no Senado Federal.
Em muitos países a classificação etária, importante para ajudar as famílias a decidirem se determinado jogo é apropriado ou não para os filhos, é realizada por órgãos governamentais. Nos Estados Unidos foi criada uma organização independente, a Entertainment Software Rating Board (ESRB) e a Pan European Game Information (PEGI), na Europa. A alguns países também possuem leis que regulam o conteúdo dos jogos, na Alemanha por exemplo, jogos que retratam propaganda nazista ou violência extrema são proibidos.
A questão do vício em jogos tem atraído a atenção dos reguladores em todo o mundo. Em países como a China e a Coreia do Sul medidas para combater essa problemática, como limitações no tempo do jogo, requisitos de identificação para jogadores online e até mesmo restrições financeiras para impedir gastos excessivos, foram implantadas.
No entanto, por conta dessa perspectiva regulatória variar de país para país, torna-se difícil a concordância das regulamentações, além de possuir uma linha tênue entre a liberdade de expressão artística e a proteção do público, gerando diversas discussões sobre o assunto.
A indústria de jogos eletrônicos tem crescido exponencialmente nas últimas décadas, tornando-se uma das formas de entretenimento mais populares e lucrativas em todo o mundo. A análise tecnológica e econômica dos jogos é fundamental para entender os principais fatores que impulsionaram o sucesso e a evolução desse setor.
A análise tecnológica dos jogos envolve o estudo das tecnologias utilizadas no desenvolvimento, distribuição e jogabilidade dos videogames. Ao longo dos anos, houve avanços estáveis ??em termos de hardware e software, o que permitiu o desenvolvimento de jogos cada vez mais complexos e realistas. A evolução dos consoles, computadores e dispositivos móveis trouxe maior capacidade de processamento, gráficos avançados, recursos de realidade virtual e aumentada, além de interfaces mais intuitivas, como controles sensíveis ao toque e sensores de movimento. Essas tecnologias contribuíram para a imersão dos jogadores e para a criação de experiências mais envolventes.
No ambiente econômico, uma análise dos jogos envolve o estudo dos aspectos financeiros e mercadológicos da indústria. Os jogos eletrônicos se tornaram um mercado multibilionário, com uma ampla base de consumidores e uma variedade de modelos de negócios. A venda de jogos em formato físico e digital, assinaturas de serviços de jogos, publicidade in-game e e-sports são algumas das principais fontes de receita para as empresas do setor. A monetização dos jogos evoluiu, com a popularização de modelos free-to-play, em que o jogo é disponibilizado gratuitamente, mas oferece itens ou recursos facilitados para compra. Além disso, a indústria de games se expandiu para além dos consoles e computadores, com o crescimento dos jogos para dispositivos móveis e incluídos de plataformas de streaming de jogos.
Em resumo, a análise tecnológica e econômica dos jogos é um processo fundamental para entender a evolução e o sucesso da indústria de jogos eletrônicos. Compreender as tecnologias utilizadas, as tendências de mercado, os modelos de negócio e as influências dos consumidores permite que empresas e desenvolvedores tomem decisões estratégicas mais controladas, impulsionando a inovação e o crescimento do setor.
Diante das análises, conclui-se que os videogames têm tido um impacto significativo na sociedade, tanto positivo quanto negativo. Por um lado, se tornaram uma forma de entretenimento e lazer, promovem a aprendizagem e educação, e proporcionam a oportunidade de socialização ultrapassando fronteiras. Por outro, é preciso reconhecer que o uso excessivo pode levar ao isolamento social, sedentarismo e negligência de responsabilidades, por consequência do vício. Dessa forma, observa-se a necessidade de controlar o uso demasiado e descontrolado dos videogames, promovendo a utilização saudável e equilibrada, a fim de aproveitar os benefícios dos jogos e ao mesmo tempo minimizar os malefícios deles.