Publicado: 08/12/21 às 13h27
Fonte: Autoesporte
Especialistas defendem que a tecnologia criada há décadas no
país ainda é uma maneira sustentável para controlar as emissões dos gases
responsáveis pelo efeito estufa.
Segundo maior produtor mundial de etanol do planeta, ficando
atrás apenas dos Estados Unidos, o Brasil pode se beneficiar do uso desse
combustível para aliviar as emissões de gás carbônico (CO2), que é associado ao
efeito estufa e um dos causadores do aquecimento global.
"O Brasil tem uma chance de ouro que não utiliza: o
etanol, que é uma solução única no mundo", afirma Renato Romio, chefe da
Divisão de Motores e Veículos do Instituto Mauá de Tecnologia. "Todo mundo
acha que o carro a álcool é coisa do passado, mas, na realidade, estamos em uma
situação que nenhum país vai conseguir alcançar em curto prazo, que é a baixa
emissão de CO2 a partir do etanol".
Na década de 1970, após o mundo enfrentar a crise do
petróleo (que foi responsável por um choque de preços dos combustíveis
fósseis), o Brasil incentivou a substituição da gasolina pelo álcool etílico,
produzido a partir da fermentação da cana-de-açúcar, por meio do Programa
Nacional do Álcool (Proálcool).
Apelidado carinhosamente de Cachacinha, o Fiat 147 foi
o primeiro carro produzido no país equipado com um motor que rodava
exclusivamente a álcool — lançado em 1979, o modelo contava com um
propulsor 1.3 que produzia modestos 62 cv.
"O Brasil chegou a ter mais de 90% de sua frota de veículos
novos rodando com álcool, ou seja, sem emissão de CO2, algo que nenhum país do
mundo terá nos próximos 50 anos", afirma Romio.
Vale lembrar que os motores a etanol também são responsáveis
pela emissão de gás carbônico, causada no momento da queima do combustível. Mas
como a matéria-prima do álcool etílico é a cana-de-açúcar, o CO2 liberado na
atmosfera acaba sendo "recapturado" durante o crescimento de seu
cultivo. Além disso, as emissões são menores quando comparadas a gasolina.
"Sequestro" do carbono
Para quem não se lembra das aulas de Biologia: para uma
planta se desenvolver, ela utiliza dióxido de carbono e água no processo de
fotossíntese e acaba liberando oxigênio. Ou seja, há um equilíbrio em relação
às emissões por conta do "sequestro" do carbono.
Os especialistas em mobilidade afirmam que o Brasil, assim
como os Estados Unidos, tem o privilégio de contar com extensas áreas
agricultáveis, o que facilita a plantação de cana-de-açúcar ou milho para a
produção de combustível — algo que não é possível em países com dimensões
territoriais mais reduzidas.
É por conta disso que a ampliação do uso do etanol no Brasil
seria um projeto mais efetivo em curto prazo do que a adoção em larga escala da
eletrificação, por exemplo. "O etanol é uma grande fonte de energia, de
forma teórica, temos sete vezes mais energia que a Usina de Itaipu usando 100%
o bagaço de cana", afirma Gerhard Ett, professor de Engenharia Química da Faculdade
de Engenharia Industrial (FEI).
Atualmente, empresas brasileiras já estão desenvolvendo o
chamado etanol de segunda geração, que é produzido a partir da fermentação do
bagaço da cana e do milho. Com isso, há menor desperdício e a possibilidade de
aumentar a produção de combustível utilizando a mesma quantidade de
matéria-prima. A Cosan, uma das grandes empresas do setor, tem planos de
construir três usinas para produzir 300 milhões de etanol de segunda geração
nos próximos anos.
Desafios
Apesar de ser um combustível plenamente viável no
Brasil, o etanol enfrenta desafios se quiser tomar o lugar da gasolina.
Como tem menor rendimento, seu preço tem de ser mais vantajoso em relação ao
combustível fóssil, algo que nem sempre é possível por conta da volatilidade da
cotação da cana-de-açúcar — com o dólar nas alturas, os produtores rurais
preferem exportar o produto do que deixá-lo para consumo interno.
Além disso, as empresas precisam manter uma oferta constante
de álcool mesmo nos períodos de entressafra (que ocorre entre dezembro e
março). O carro do futuro vai rodar a etanol no Brasil?
Fonte: Autoesporte